Brasil,
dezenove de abril de 2048
Longe de Horizontina,
entre salas e túneis secretos espalhados pela antiga capital dos gaúchos, planos
estavam começando a sair do papel. Entre as ruínas da bomba, do incêndio e do abandonado
da cidade, algumas chaminés em bom estado destoavam do cenário desolador. Passado-se
dez ano das bombas e das sabotagens em larga escala, a inércia da OIPNOM parecia
ter acabado.
E não era só em Porto Alegre
que chaminés estavam sendo acessas. Em varias partes do país, Entre os
escombros de São Paulo, nas capitais inundadas do norte do país e na radioativa
cidade do Rio de Janeiros, fuligem começava a se acumular no horizonte. Ninguém
ainda havia se aventurado para tentar compreender o que estavam acontecendo.
Muito se se especulava
sobre os reais objetivos da organização. Intelectuais dessa nova realidade e a
população em geral especulavam em teorias mirabolantes que iam de fanáticos
religiosos adoradores de bombas atômicas como naquele velho filme com macacos,
conspiração de dominação mundial por uma minoria composta pela antiga elite
mundial até conspirações que envolviam a volta de Cristo ou uma iminente
invasão alienígena.
Independente de quem
fora ou por qual motivo, todos seguiram suas vidas da melhor forma possível. Grandes centros urbanos devastados, economia global colapsado e grande
parte da população reduzida em tamanho e orgulho. No Brasil, um país de tamanhos
continentais, logo após os primeiros anos do colapso, comunidades se reergueram
por todas as partes.
Populações não fixas em
suas cidades carroças moviam-se por toda parte entre o nordeste e o
centro-oeste do Brasil, pastores que moviam seus rebanhos por todas as pastes e
sobrevivendo de escambos com assentamentos permanentes. No norte, onde grande parte
da vegetação densa da floresta amazônica sobreviveu, pequenas tribos se espalhavam
entre as ruínas de antigas cidades que colapsaram após os primeiro meses depois
do apocalipse, vivendo de caça e colheita.
Em algumas regiões do
Brasil, verdadeiros novos Estados surgiram suprindo a vaga que foi deixada após
o colapso de Brasília e das instituições. No nordeste, cidades-estados
fortificadas espalharam-se entre as regiões férteis e chegando às margens dos
desertos que se espalharam entre as antigas zonas áridas do sertão. O messianismo,
que fora um movimento popular e religioso comum nos fins do século XIX e início
do XX no Brasil, retornara com força.
No centro-oeste, a grande
Confederação de Alto Paraíso, composta por cidades-estados da região da Chapada
dos Veadeiros havia recentemente se unido, criando um exército e leis unitárias
visando sua sobrevivência contra os vizinhos beligerantes da Nova República de
Goiás, ao sul e o Estado de Araguaia.
No sudeste existiam inúmeros
pequenos feudos, estados e comunas rurais. Entre essas se destacavam as “Oito Repúblicas”,
dois reinos e um império. A maioria desses Estados vivia em alianças e guerras
quase que ininterruptas entre si. Desses Estados, dois se destacavam pela
relativa paz entre seus vizinhos. O Império do Brasil e a Cidade Santa de
Aparecida.
As “Oito Repúblicas”,
eram Estados relativamente democráticos, cujas fronteiras aumentavam ou
diminuíam conforme os avanços e recuos dos aliados ou dos inimigos. Duas das
Repúblicas, a República de Americana e a República de Piracicaba eram as duas mais
ricas das nações, estas influenciavam toda a região paulista. Com relativa
densidade populacional advinda do colapso da região metropolitana paulista, a
reconstrução da vizinhança atingida por bombas e por incêndios foram rapidamente
recuperadas.
O Império do Brasil,
revindicava a soberania de todo o antigo território nacional. O atual imperador
era um descendente direto do último imperador do país, sua Majestade Imperial
Dom Pedro II. Controlava boa parte do interior do Estado do Rio de Janeiro. A capital
era a cidade de Petrópolis que foi parcialmente reconstruída após a
estabilização da região. Toda a região metropolitana do Rio de Janeiro era uma
região contaminada pela radiação resultante das Usinas Nucleares de Angra I, II
e III.
A Cidade Santa de
Aparecida é um Estado teocrático, onde as decisões políticas são realizadas por
um grupo de padres e membros do clero local. O líder da nação é o arcebispo da
região. Segundo a história, a bomba que foi plantada na cidade, não foi acionada
e isto foi visto como milagres de deus que decidiu poupar a cidade. Hoje a Cidade
Santa domina toda a região de Guaratinguetá.
O Império mesmo tendo
um arsenal militar respeitável, buscava expandir naturalmente suas fronteiras,
tendo vários pequenas cidades que se uniram de boa vontade as fronteiras imperiais.
Ao sul do Brasil, as
regiões de Santa Catarina e Paraná vivem praticamente em estado de anarquia,
devido ao grande número de refugiado paraguaios e argentinos que cruzaram a
fronteira depois dos primeiros meses. Pequenas comunidades rurais fechadas ao
mundo exterior são facilmente encontradas por essas regiões. Uma exceção é a
Confederação de Contestado, cujas fronteiras se assemelham a antiga divisão estadual
de nome semelhante.
No Rio Grande do Sul, temos
a formação do Governo Provisório Gaúcho, ou como é conhecido popularmente,
República Piratini. Esse Estado reivindica a totalidade do antigo Estado gaúcho.
Embora não tenha nenhum outro Estado que clama o direito de sucessor, algumas
regiões não estão de controle direto de Piratini, como as regiões de fronteira
com o Rio Uruguai e regiões que foram bombardeadas no centro-oeste do Estado,
onde o processo de desertificação foi intensificado e senhores de guerra aterrorizam
os habitantes locais.
Uma coisa que é igual para
todos, em todo o Brasil, é o litoral. Nenhum Estado possui controle direto de
um porto ou acesso ao mar. O tabu com os mares se deve ao controle direto que a
OIPNOM detém em cidades litorâneas, portos e praias naturais em pontos estratégicos.
Embora o controle não seja feito diretamente por um exército de soldados, a
organização dispõem de milhares de drones militares e sensores de movimentos
espalhados.
No Rio de Janeiro, as
usinas dessalinizadoras que a OIPNOM havia construído para seu uso próprio
funcionavam a pleno vapor. As turbinas giravam em alta velocidade enquanto a
água era sugada da Baia de Guanabara, levadas ao subterrâneo onde era tratada para
remover impurezas e radioatividade da água. A cidade estava relativamente
conservada, visto que a cidade não foi alvo de bombas, a quase totalidade da
infraestrutural estava minimamente operando em condições razoáveis.
Em uma grande sala de
reuniões que ficava dentro de um dos inúmeros túneis ocupados pela organização,
o Tenente Gertz estava sentado em sua cadeira de couro preta aguardando contatos
com os comandantes regionais da OIPNOM. Depois de anos esperando a decisão de
seus superiores, Gertz estava ansioso para transmitir novas ordens.
Antes de ele ser
tenente. Antonio Gertz, era um professor brilhante, especialista no Brasil
engenharia nuclear e era diretor de uma das usinas nucleares de angra. Ele fora
recrutado pela organização ainda em 2032, seis anos antes dos planos iniciais começarem.
Sua tarefa foi relativamente simples quando tudo começou a ir para os ares. Ele
deveria sabotar as usinas nucleares, abrindo caminho para uma contaminação radioativa
de toda a região metropolitana do Rio de Janeiro.
Seus cabelos loiros,
que hoje em dia eram ralos, eram ocultados por um quepe militar que ele usava
todos os dias. Embora seu papel era de intermediador entre os líderes da
organização no Brasil e os comandantes regionais, ele deveria ser um dos poucos
que conheceram pessoalmente a liderança.
Enquanto olhava sua imagem
refletida num painel que indicava o nível de radiação no ar da cidade, uma a uma
das telas com os comandantes regionais se conectaram. Uma das vantagens de
possuir grandes especialistas nas mais diversas áreas possibilitou a conexão e a
comunicação de varias unidades militares e de operações interligados numa grande
rede regional.
Os nove comandantes
regionais preencheram a tela principal da sala de comando do Tenente. Porto Alegre,
Belém, Curitiba, Goiânia, São Paulo, Campo Grande, Belo Horizonte, Salvador e
Aracaju estavam conectados. Todos estavam em silencio esperando as palavras do
Tenente. Gertz olhava novamente para o memorando que trazia junto ao seu tablet.
Leu novamente as pautas
e olhou novamente para os comandantes e disse:
-Confrades, estamos aqui
para resolver assuntos sérios. Hoje será uma reunião longa, espero depois dessa
reunião o envio do relatório semanal das atividades.
-O primeiro tema é
sobre o inicio da terceira fase das operações da nossa nobre organização. Vamos
começar hoje, após a meia noite a Operação Pindorama. Os indígenas chamavam as
terras brasileiras de Pindorama uma terra sem maldades, de pureza, de paz. Quando
nossos antepassados trouxeram a civilização para esses bárbaros, o litoral foi
o primeiro lugar colonizado e permaneceu assim por muito tempo.
-Amigos, hoje é o dia
de reformarmos Pindorama novamente. A fase de permanecermos quase todos no
litoral já durou o suficiente. Tivemos avanços no interior que já não podem ser
mais ignorado por nossos superiores. Conseguimos nos estabelecermos, nos
fortificarmos e de recrutar mais pessoas. Hoje no Brasil, temos inúmeras nações
que se auto declaram sucessoras do país, que prometem trazer falsa paz e falsa
estabilidade, mas só trazem cobiça e o desejo pelo poder.
-Hoje amigos, é o dia
de avançarmos pelas ruínas de Pindorama. Eliminar os falsos protetores, falsos
líderes. Demos muito tempo de paz para esses bárbaros. Preparem as tropas
móveis, unidades drones e os regimentos mecanizados. Como nossos antepassados bandeirantes,
vamos conquistar o país. É a hora de todos lembrarem o que é a OIPNOM!
Enquanto a reunião continuava
dentro dos salões da OIPNOM por todo o país, no Rio de Janeiro, armazéns perto
da baia abriam lentamente suas portas enferrujadas. Enquanto os raios de sol banhavam
pela primeira vez em anos dentro desses lugares, memórias dos velhos tempos se
tornavam nítidas. Dezenas de Jipes e tanques esperavam ordens. O silencio na antiga
cidade maravilhosa era interrompido enquanto uma dúzia de helicópteros sobrevoavam
os céus cariocas próximos ao Cristo Redentor.
(Capítulo 6: Operação Pindorama -Parte 2-)
(Capítulo 6: Operação Pindorama -Parte 2-)