Em
algum lugar entre Horizontina e Doutor Maurício Cardoso, cinco de abril de 2048
Desde que sua mãe
morrera, Fernando ficou sem um dos alicerces que o sustentavam psicologicamente.
Sempre fora apegado demais em sua mãe desde que se lembra como gente. Pouco mais
de dez anos haviam passado desde o apocalipse, e quase sete anos desde que sua
mãe falecera.
Fazia alguns dias que
Fernando saiu de Horizontina em busca de algo que ele nem sabia direito o que
era. Só sabia que quando achasse, saberia o que fazer ou agir. Foi o último a falar com
sua mãe antes dela morrer. Ela havia dito algumas palavras, as quais
ele não se atreveu a contar para ninguém, pois ela havia pedido isto. Continuaria procurando o que ela havia
lhe pedido.
Era uma chance de mudança;
Era uma chance de mudança;
Fernando acordara todo
dolorido. Suas costelas doíam conforme ele respirava. Lembrou-se instantaneamente
da surra que tomou de dois sujeitos que acabaram roubando sua moto e o deixaram
desacordado na beira da estrada.
Conhecia aqueles dois
de outras ocasiões, mas não menos dolorosas do que esta. -A sorte deles é que eu não estava com minha arma em mãos...-, pensou
Fernando enquanto se levantava cambaleado. Nada da sua mochila tinha sido furtada,
somente a sua preciosa moto. Tirou do bolso esquerdo da sua calça jeans um
relógio de bolso para verificar as horas. Sabia que estava atrasado para chegar
a sua casa, mas pensou consigo mesmo, -pelo
menos vou chegar em casa-.
Chutou uma latinha de
alumínio que se encontrava ali perto e andou lentamente para casa.
Enquanto a latinha ainda
se distanciava de Fernando com o chute, automaticamente a dor lhe cobrou o
preço. Precisou parar um pouco para respirar, enquanto observava o horizonte, o
sol timidamente aparecia entre uma pequena brecha das nuvens.
Horizontina embora não
foi atingida por bomba ou radiação, a pequena cidade entrou em colapso muito
rápido. Quando Fernando e sua família saíram do bunker a pouco mais de dez anos
lembrava-se de ver muitas pessoas perto da prefeitura e da delegacia da cidade
em busca de ajuda ou proteção. Quando souberam que o prefeito tinha morrido na
cidade vizinha e que a polícia havia desaparecido, toda a calma arruinou-se.
A distancia até sua casa
era pequena, mais uma hora de caminhada e chegaria atrasado para o jantar e com certeza depois ouviria
o sermão do pai, da irmã e de sua esposa. Nessas horas, sentia ainda mais saudades
de sua mãe. Amélia como muitos outros, não suportou viver num mundo tão frio,
onde agora irmão matava irmão, onde nenhuma vida era respeitada.
De fato os tempos eram
sombrios. Na avenida que cortava a cidade de uma ponta
a outra, mato crescia entre as fendas do asfalto que há muito tempo não recebia
manutenção. Carros abandonados no meio da rua davam a sensação de solidão e inquietude.
Quanto mais adentrava pela avenida, mais e mais construções surgiam.
Na esquerda uma grande
fabrica de maquinas agrícolas se encontrava em completo abandono. Sua parte
frontal ainda exibia marcas de um grande incêndio que levaram parte dos pisos
superiores ao colapso.
Um pouco mais adiante,
entre uma pracinha de bairro tomada pela vegetação, um enorme outdoor ainda
exibia cores brilhantes e vivas. No outdoor o astronauta brasileiro Rodrigo
Ceuta estava vestido com seus trajes espaciais e ao fundo uma bandeira do Brasil
e da Comunidade Sul-Americana. Uma frase com os dizeres: “Compre seu kit astronauta
mirim e ajuda o Brasil e toda a Comunidade a alcançar as estrelas!”
Enquanto olhava para o
quadro com um olhar nostálgico, disse: -Eu que comprei um desses e
nunca chegou....-
A Lua estava no alto,
iluminando o céu daquele início de noite. De longe entre prédios e carros abandonados,
duas tochas eram o único ponto de iluminação artificial visível.
Estava em casa.
Enquanto subia um
trecho da avenida, gritava:
-Abram o portão!-
A
dor voltava com força nas costelas. Com a respiração ofegante, o mundo começou a
girar, enquanto caia com força no chão, visualizou dois vultos indo em sua
direção. E então o mundo ficou escuro.
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