quarta-feira, 22 de abril de 2015

Capítulo 2: A década dos Cavaleiros do Apocalipse -Parte Três-

Horizontina, dezoito de fevereiro de 2038.

Os primeiros dias foram de buscar suprimentos nas casas próximas. JH havia criado algumas regras para sua família, no qual explicava o que deveria procurar e como agir diante de contato com outras pessoas.

Num quadro de giz estava escritos as quatro principais regras:
-Saia sempre acompanhado;
-Leve um apito, lanterna e o contador geiger;
-Não fique muito tempo na rua ou numa casa;
-Se na casa escolhida tiver pessoas, não leve nada.

As casas mais próximas estavam vazias. Os carros haviam sumido das garagens. JH havia escolhido sua filha para ir à primeira busca com ele. Beatriz ficara muito abatida e estressada naquele tempo presa dentro um cubículo praticamente sem privacidade. Agora seria uma boa hora para JH levar sua filha para fora da zona de conforto que ele mesmo havia criado.

A primeira casa que foram vasculhar era uma residência de dois pisos, que fica de frente para sua casa. De uma janela, Fernando observava esperando qualquer pedido de ajuda. Fernando se lembrava do tempo que brincava na rua com os dois filhos dos vizinhos que moravam naquela casa. -Estariam mortos nesse momento ou teriam sobrevivido em algum lugar? -Pensou.

Quantos amigos, familiares e pessoas que ele conhecera durante a vida estariam vivos? Quem teria escapado das bombas, sobreviveria com a falta de comida que chegaria? E o primeiro inverno? Essas questões martelavam sua cabeça. Ele fechou os olhos e disse para si mesmo: Quando eu abrir os olhos, estarei na minha cama. Tudo foi um pesadelo terrível. Abriu os olhos e continuava vendo sua irmã na casa a frente.

Enquanto Fernando divagava, Amélia chegou e abraçou o filho. Era a primeira vez em anos que sua mãe tinha o visto chorar. Mães compreendem os filhos mesmo sem eles abrirem a boca. A dor de Fernando iria passar, ele só precisava de tempo.

Amélia virou o rosto do filho em sua direção, beijou a sua testa e disse: - Mamãe ama você, esta bem?-

Na casa dos vizinhos, parecia que tinha ocorrido um furacão. Objetos caídos, folhas mortas e muitos insetos invadiram o local. O cheiro de umidade inundava o ambiente. Parece que os vizinhos saíram às pressas de casa, a sala espaçosa com dois sofás, lareira e quadros se encontravam vazia. JH chegou perto de uma coleção de quadros que ficava em cima da lareira, mesmo com a poeira ele conhecia aqueles quadros.

As fotos dos dois filhos do casal em diferentes idades preenchiam aqueles quadros. JH se lembrava do tempo que vinha aqui com sua esposa jogar canastra com Henrique e Bruna todas as quintas feiras. Embora não fosse um jogador nato, ele e Amélia se saiam bem contra o casal vizinho. Nesses dias alegres a rua era cheia de som de crianças brincando com bola ou somente correndo uma atrás da outra. Tempos que não vão voltar, pensou JH.

Na sala havia uma mala que tinha sido deixada para trás, provavelmente na pressa esqueceram-se de levar junto. Beatriz vasculhou a mala em busca de algo necessário, buscou em vão. Na mala só havia algumas roupas e alguns quadros antigos.

Tirando o tapete, a televisão presa na parede e a sujeira, não tinha mais nada de interesse na sala. Depois da sala havia um corredor com três portas e no fim uma escadaria que levava para o segundo andar. João e Beatriz entraram no corredor semi-iluminado que novamente se encontrava cheio de quadros e pôster de diversos tipos.

-Beatriz, olhe os cômodos daqui de baixo que eu olho os quartos.-

Antes de ela dizer algo, seu pai já havia subido as escadas.
Beatriz olhou para a primeira porta que ficava do lado esquerdo, lembrava que ali ficava o banheiro. Entrou no banheiro social e não encontrou nada de útil além de uma embalagem de band-aid. Enquanto Beatriz saiu do banheiro ouviu um barulho estranho vindo de cima.

-Pai?- Gritou Beatriz. Sem resposta, resolveu ir até a cozinha procurar alguma coisa que pudesse servir como arma. Procurando entre as gavetas achou uma faca de cortar carne que seria útil caso precisasse usar. Segurando a faca , decidiu subir as escadas.

Subiu lentamente as escadas, desviando das teias e de qualquer objeto que pudesse fazer algum barulho. No segundo andar, o silencio era total. O único barulho era o vento que batia com força na casa. Andou mais alguns passos. O silencio era total.

-Pai?- Falou baixinho.

Sons de passos vinham em sua direção. Uma pessoa, que ela conhecera há muito tempo atras parecia diferente, doente. Era Pedro, um dos filhos do casal donos da casa.

-Pedro? O que houve com você?- Abaixou a faca, esperando uma resposta.
Antes de conseguir uma resposta, Pedro corria em sua direção.

-SAIA DA MINHA CASA!-

Beatriz conseguiu se desviar da primeira investida de Pedro, que continuava gritando coisas indecifráveis. O corpo de Pedro estava pálido e cheio de bolhas. Seus olhos antes azuis, estavam negros. Ele estava louco ou doente, ou os dois. Beatriz correu em direção ao quarto onde anteriormente Pedro havia saído. No chão, seu pai estava desmaiado, um fino fio de sangue escorria pela sua cabeça.

Antes de poder fazer alguma coisa, ela foi empurrada para o lado e chocou-se com uma escrivaninha que ficava ao lado da cama. A faca que carregava na mão esquerda foi jogada para longe. Pedro e Beatriz olharam para a faca. Pedro correu para pegar a faca, mas Beatriz mesmo atordoada chegou antes.

Pedro salta em direção de Beatriz. Erro fatal de Pedro, os gritos e os movimentos cessaram. A faca havia acertado o coração. O silencio voltou novamente. Beatriz ainda estava por baixo segurando a faca que separava ela da pessoa que havia matado.

-Ele... estava doente- Disse João ainda atordoado, pela pancada que havia levado na cabeça. Beatriz ajudou seu pai a levantar, apoiando-se João disse:

-Vamos para casa filha-


Em algum lugar do Litoral do Estado do Rio Grande do Sul:

Horizontina, dezenove de fevereiro de 2038.

Era mais um dia anormal daquele inferno que começara a um pouco mais de um mês. Um reduzido regimento do exército brasileiro que estava realizando exercícios próximos do litoral estavam procurando algum pelotão, quartel ou autoridade que pudessem lhe informar algo.

Fazia uma semana que encontraram uma pessoa que havia dito que todos estavam descendo o Estado, e que o governo havia sido transferido para uma cidade pequena na região. Enquanto o regimento descia o Estado, um rastro de fumaça se formava no céu gaúcho. O objeto passou voando e aterrizou uns 50 metros da linha da praia.


Um compartimento abria daquele objeto. De la saiu um homem gritando algo em russo.

( -> Capítulo 3: Dez anos de guerra -Parte 1 )


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